Hora da despedida. Despedida, saudades. Somos assim, sentimentais. Conheci gente capaz de ter saudades de tudo, até do pé de atleta. O sr.sousa vai-se embora. Não deixa saudades, dizem. Mentira, deixa sempre saudades. Somos assim, sentimentais.
Na despedida, muitos revelam falta de gratidão. São os que dizem que lhe devemos as leis que facilitam a corrupção. A nacionalização vergonhosa do BPN. Uma economia sem réstia de competitividade. Mais de 600 mil desempregados. Um número record de pessoas sem acesso ao subsídio de desemprego. E, last, but not the least, o regresso da vigilância pidesca sobre os cidadãos.
Nós, não. Não somos ingratos. Que seria de nós e muitos outros sem alguém de quem falar mal? Onde arranjar alguém de quem seja tão fácil falar mal? Nestes breves anos, ele fez parte da nossa existência, dos nossos ódios, das nossas piadas. E agora? Agora que o ódio pelo sr. sousa deixa de fazer sentido, quem é que nós somos?
Como num funeral, recordamos na memória os momentos que passámos com o defunto. O homem discreto e bem educado. Tão bem educado que puseram em causa a sua heterossexualidade. Os diplomas da licenciatura e da pós-graduação. A sua fé inabalável num portugal tecnológico. O magalhães. Os amigos chaves e kadafi. Tão bem que falava inglês. E, ainda melhor, espanhol.
Um homem notável. De uma família notável. E como muitos homens notáveis, pouco dado a pormenores. Um homem que não se lembrava de ter sido sócio da Felgueiras. Um homem que se esquece da mão do ministro dos estrangeiros ali pendurada. Um homem que não sabia que era proibido fumar nos aviões. Vai-se embora. Não deixa saudades. Quer dizer, deixa.
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