O meu avô era pescador, uma pessoa simples. Perante discussões intermináveis ele costumava perguntar: “Ganhaste? E perante a perplexidade do outro, acrescentava: Não ganhaste? Então perdeste”. Esta é uma frase faz parte do património da família. O significado da frase foi mais tarde generalizado. Não se aplica só a discussões. Aplica-se a tudo na vida. “Andaste à porrada! Ganhaste? Não ganhaste? Então perdeste”. Aplica-se a todos os investimentos, esforços, decisões, etc. É uma simplificação à mourinho, décadas antes do mourinho ser estrela. Ganhou-se ou não se ganhou, o resto é conversa.
Os economistas perderam. Após décadas de paleio sobre o primado do mercado, da concorrência, da desregulação, da liberdade financeira, etc., levaram uma cabazada da realidade. Fazer previsões e/ou recomendações é sempre um risco. É um jogo. Ganha-se ou perde-se. A maioria dos economistas tem mau perder.
Quem tem mau perder arranja sempre umas desculpas. Sente-se sempre injustiçado. Um desses economistas escreveu agora um artigo com o título arrogância e ignorância. É um artigo de protesto. Um artigo sobre as pessoas que, sendo ignorantes em economia, exibem agora uma desmedida arrogância face aos economistas falhados.
Os economistas são hoje vítimas daquilo que outrora lhes garantiu o sucesso. As pessoas simples só querem saber de teorias que estejam em sintonia com a realidade em que vivem, ou julgam viver. Estes são os economistas que outrora beneficiaram do falhanço das previsões marx-catastrofistas sobre o capitalismo. Que ridicularizavam o marxismo confrontando-o com a realidade. São os mesmos economistas que agora se incomodam que alguém lhes aponte a realidade às suas previsões, ridicularizando a sua ciência.
P.S.: Há muitos anos estava na Ponta do Mato a apanhar minhoca. E vi ali, à beira-rio, uma rede, na vertical, presa por uns paus. Uma coisa primitiva e encantadora. Daquelas que podiam estar ali há centenas de anos. Funcionava na perfeição. Uma ferramenta primitiva que apanhava peixe, linguados aos montes. O pessoal não quer ciência. O que o pessoal quer é o peixe no prato. São assim as pessoas simples. Há muito para aprender com as pessoas simples.
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