esfera íntima

Parte I

Os dirigentes pretendem saber tudo sobre o cidadão. Mas o cidadão nada sabe sobre os seus dirigentes. Porque tudo pertence à sua esfera íntima.

Temos um país que não sabe que eles foram todos colegas de escola. Que pertencem todos às mesmas famílias. Que almoçam à mesma mesa. Um país que não percebe as fontes do financiamento partidário. Que elege presidentes da república sem saber das suas ligações empresariais.

Um país em que os rendimentos, investimentos e dívidas dos dirigentes e seus familiares pertencem à sua esfera íntima. Um país que não sabe se os dirigentes pegam de marcha à frente ou à ré. Porque isso pertence à sua esfera íntima. Que não sabe se consomem estupefacientes. Porque isso pertence à sua esfera íntima. Que nada sabe sobre a rede de interesses e relações que dão acesso ao poder e aos seus benefícios. Porque isso também pertence à sua esfera íntima.

Parte II

É o mesmo país em que o cidadão comum é vigiado permanentemente por câmaras no local de trabalho, na escola, nas compras, na rua e na estrada. O mesmo país em que se registam todos os telefonemas dos cidadãos. Todos os SMS enviados. Todos os percursos realizados por quem se desloque de carro. Todos os percursos realizados por quem transporte um telemóvel. Todos os mails trocados. Todos os sites visitados.

Nunca o estado teve tanta informação sobre o cidadão. Nunca, em nenhuma época, em nenhum local e em nenhum regime. Nunca um estado necessitou de tanta informação sobre o cidadão. A esfera íntima é só para alguns.

P.S.: É uma espécie de ditadura do proletariado sem a parte do proletariado.