Os estivadores manifestaram-se. Em frente à Assembleia da República. Foi uma manifestação a sério. Há muito tempo que não tínhamos disto. O estivador sempre foi um homem grande. Mesmo os mais pequenos. A estiva não era uma actividade para todos. Sempre exigiu uma robustez que não é a de quem vai para o ginásio e toma umas injecções de clenbuterol à pressa. Por isso, e pelo ambiente de semi-marginalidade que sempre rodeou os portos e o mar, o estivador sempre foi um bom desordeiro.
Manifestaram-se uns 200 estivadores. Os estivadores já não são o que eram. Já não fazem tremer governos pelo mundo fora. Mas continuam a ser um bocado diferentes dos restantes trabalhadores. Dos trabalhadores que constituem o novo proletariado. Um proletariado intelectualizado. Proletariado certamente, mas apaneleirado de passar o dia a ler e escrever. O estivador sempre foi o oposto disso. Mais ainda do que o agricultor e o camionista. Os estivadores foram lá chamar filho da puta ao Sócrates. E largaram uns petardos. É o acontecimento da semana. Já tínhamos saudades disto.
Manifestações com petardos. Que é para os ouvirem melhor. Os polícias não identificaram ninguém. Esqueceram-se. Não fazia falta, eh!eh! Repare-se em como a cautela da autoridade nesta situação substitui o seu comportamento pró-activo noutras. Os estivadores preparam-se. Os petardos trazem-se de casa, não se arranjam ali. E mostram a barriga, sinal de preparação física. Estivadores, camionistas, agricultores. O antigo proletariado.
Os estivadores são homens a sério. Um quilo de cérebro para um quilo de colhões. Eram apenas 200. Mas, honradamente, respeitaram a memória dos estivadores que pelo mundo fora fizeram lutas sindicais. Estiveram à altura dos que os antecederam.
P.S.: Os estivadores queixam-se de perder o emprego. Às mãos do Jorge Coelho, um amigo especial do governo. A quem este concessiona a zona ribeirinha. As palavras de ordem foram:“Sócrates, mentiu, para a puta que o pariu”. “Sócrates, escuta, és um filho da puta”. É outro vocabulário.
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