O gajo entrou-me no taxi com ar aprumado mas eu vi logo que ele tinha uma pinta esquisita. Depois começou a falar de política, assunto que eu evito porque nunca se sabe quem nos aparece pela frente. O gajo falava e eu abanava a cabeça que sim. Às tantas perguntou-me se eu não achava que devíamos ter eleições antecipadas. Como eu não voto, estou-me a cagar para isso e disse-lhe que não sabia. O gajo insistia. Não se calava com aquilo do Freeport, e que o sócrates era suspeito, e que só podia ser culpado, e que sendo culpado isto não podia continuar assim. “- Precisamos de eleições já! Ouviu!?”. Eu abanei a cabeça e dei sinal que sim porque o gajo tinha um ar autoritário e sei que não devemos contrariá-los.
Estávamos quase a chegar e o gajo puxou de uma faca. Espetou nele e disse “- Isto é um assassinato político! Isto é um assassinato político!”. A faca era de plástico e o sangue que esguichou para o vidro era a fingir mas apanhei um susto do caraças. Dasse…só me saem é cromos.
A bandeirada terminou ali para os lados do marquês de pombal. O gajo saíu, aprumado, de cabelo grisalho, com um ar bem educado e deu-me uma bela duma groja, mas ainda perguntou: “Não acha mesmo que devíamos antecipar as eleições?”. Eu respondi-lhe que sim, com certeza. Estavam à espera dele uns senhores com pinta de seguranças e uma senhora já de idade. A senhora olhou para a tinta vermelha no vidro, olhou para mim e, de seguida, fixou-se no cliente e disse-lhe com ar reprovador: “- Oh Zé! Já vi que andaste a fazer as macacadas do costume…”
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