Contos da Tugalândia

Uma manhã na taberna do compadre Jacinto

– Bum dia cumpadre!

– Cumpadre…

-Ó Cumpadre, vossemeçê parece-me um bucado abatido cumpadre! Passa-se alguma coisa consigo cumpadre? E a cumadre sua senhora está boa?

– A cumadre lá vai andado com a suas de sempre cumpadre…

– Mas e o que se passa consigo cumpadre? Nsse estado! Isso nem parece seu cumpadre!

– Oh Cumpadre nã me diga nada. Tou aqui com uma cumplicação cumpadre, que não sei como vou sair dela.

– Oh Cumpadre conte lá o que se passa pra ver se a gente consegue uma solução. Ó Cumpadre Jacinto, Jacinto! Traga lá dois copos de de três daí da pinga do cumpadre Horácio! E uns torresmos p’ aconchegar. Conte lá intão cumpadre…

– Ora aqui está cumpadres, dois de três e os torresmos (intervenção do compadre taberneiro)

– Bom cumpadre. Isto conta-se num instante cumpadre. Como sabe cumprei ao cumpadre Ilídio aquelas courelas que ele tinha lá baixo junto ao rio pra pôr lá uma exploração de porcos em sociedade com aquele meu cumpadre que anda lá por fora. Sabe quais são não sabe? Aqueles que ficam mesmo junto à do cumpadre Joaquim!

– Sei, claro que sei. Até lá fui consigo! E atão? Isso não tava tudo tratado?

– Bom cumpadre, tava… Até tava. Mas depois veio lá o cumpadre enginheiro lá da câmra e diz qu’eu ali nã posso por porcos nenhuns cumpadre! Por cusa do rio! Cumpadre! Já viu isto? Ora o rio é tã grande!

– Atão mas o cumpadre enginheiro não arranjou jeitos de fazer a coisa cumpadre?

– Não cumpadre… É qu’o compadre enginheiro é daqueles novinhos lá da universidade, cumpadre, que têm a mania lá daquelas coisas do ambiente e cos porcos sujam muito! E que estragam as águas! Onde já se viu? Um animal tã limpo?

– Pois é o cumpadre! Isso é uma chatice ó cumpadre!

– É! Não sei que fazer cumpadre. Agora o que que vou fazer às courelas cumpadre? Nem me deixa lá pôr umas casa! Também por causa das águas, cumpadre! E com isto, quem é que me vai comprar as courelas cumpadre? E o qu’é qu’eu digo ao mê cumpadre qu’anda lá por fora? Já viu isto?

– É cumpadre isso é…, caramba cumpadre, caramba… Ó cumpadre! Espere lá! Agora me lembro ! Eu tenho a solução cumpadre! Ó cumpadre Jacinto traga aí mais dois copos qu’a gente já está às iscuras cumpadre!

– Tem a solução cumpadre?

-É! Olhe cumpadre, vou-lhe dar aqui o cuntacto dum cumpadre meu, cumpadre, que é casado com uma minha comadre, compadre, e que tem um cumpadre sobrinho que está lá na câmra e que agora tem o pelouro lá do não sei quê, cumpadre, qu’acho qu’é do ambiente cumpadre! Fale com ele qu’ele só não ajuda se não puder cumpadre! Telefone-lhe, cumpadre, e diga-lhe que vai da minha parte cumpadre!

– Ó cumpadre iss’é qu’era bonito cumpadre! Iss’é qu’era bonito! Ó cumpadre! Deus lhe pague cumpadre! Vou já telefonar cumpadre.


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Comentários

Um comentário a “Contos da Tugalândia”

  1. Avatar de alex

    Foi assim que nasceu o Freeport de Alcochete?

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