Quando era pequeno ensinaram-me o que era um homem sério. Um homem sério não ri. Um homem sério é um homem que não ri. Aprendi por mim depois que existiam outros requisitos para ser um homem sério. Não dizer caralhadas. Dizer só coisas que toda a gente já sabe. De preferência com um ar empenhado. Usar fato e gravata. Este último é, na verdade, o menos essencial dos requisitos.
Aos homens sérios estão destinados os comandos das empresas, das nações, os lugares de fiscalização, os lugares em que se pretende que se sirva de exemplo. Não se nota, mas eu não sou um homem sério. Homem sério é o presidente do banco de portugal. Isso é que é um homem sério.
Segundo o nosso pasquim mais amigo, o homem é tão sério que vai comprar moedas comemorativas de 2004. Pela módica quantia de 40 milhões de euros. Oito milhões de contos. Um excelente negócio para o contribuinte. É tão sério que consegue fazer o negócio sem se rir. É difícil ser um homem tão sério assim.
Claro que é esquisito que um banco, o BPN, se tenha metido nesse negócio das moedas comemorativas. Mais parece um negócio de selos. Claro que é esquisito que os accionistas do banco não equacionem a possibilidade de actuar judicialmente contra quem andou a brincar às moedas comemorativas. Claro que é esquisito que o Banco de Portugal não faça uma investigação geral, profunda e imediata sobre um banco que, a avaliar pela notícia, parece ter andado a brincar. Mais um. Mas podemos estar descansados. O Banco de Portugal já teu provas recentes de acompanhar passo a passo o que deve ser acompanhado. No BCP.
No meio disto só não se percebe muito bem é qual é o meu interesse, meu de contribuinte, em comprar moedas comemorativas de 2004. Foda-se. Apetecia-me mais comprar um par de botas. Ou talvez ir às putas. Mas não pode ser. O bem público urge. Exige que eu compre moedas comemorativas de 2004. É uma necessidade urgente. Certamente o presidente do Banco de Portugal terá uma explicação muito técnica para explicar isso. As explicações muito técnicas são outro apanágio dos homens sérios. Tal como o silêncio. O silêncio dos homens sérios.
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