O director do chornal não me paga. Por isso faço o que quero. O título era para ser “portugal nos jogos olímpicos de pequim”. Mas, como o director do chornal não me paga, o título é “António Pereira”. Tem tudo a ver. O conteúdo é o mesmo. O título é que muda. Então aqui vai o resumo da participação de portugal nos jogos olímpicos. As esperanças portuguesas estavam no judo, triatlo, salto em comprimento e vela. Sobre a vela não me pronuncio. Não é um desporto. É uma actividade digna, mas é tanto um desporto como as corridas de caracóis dos chineses ou apanhar conquilhas. O judo é um desporto, infelizmente e desde há muitos anos. Correr e saltar são desportos a sério.
As más notícias
As esperanças portuguesas no judo eram a Telma Monteiro e o Luis Pina. A Telma perdeu a luta com uma chinesa, graças à arbitragem caseira destes jogos. O Luis Pina perdeu a luta com um japonês, graças à arbitragem caseira tradicional da modalidade. Foram fustigados na praça pública e nos media. As bocas, supostamente para a geral, do presidente do comité olímpico português, Vicente de Moura, caíram em cima deles ou, pelo menos, da imagem que o público faz deles. As referências do presidente do COP à falta de profissionalismo dos atletas caíram em cima de todos os que competiram até ao salto do Nelson, com excepção da Vanessa que se demarcou deles, dos maus.
As boas notícias
A Vanessa Fernandes ganhou a medalha de prata do triatlo. No salto em comprimento, após o azar da Naide Gomes, brilhou a medalha de ouro do magnífico e extraordinário Nelson Évora. Lembrar-se-ão do Nelson para sempre. Para sempre, o que quer que isso seja, como nos casamentos. Nelson Évora fica assim para história. Viva o Nelson Évora!
O COP
Contrariamente ao desejado, o Comité Olímpico Português (COP) foi tão badalado durante os jogos quanto as prestações dos próprios atletas. É sempre mau sinal quando isso acontece. O espectáculo são os atletas, não os burocratas. Ficámos a saber pelos media que existia uma vasta conspiração de atletas, à moda de Saltillo, contra a pátria, organizada por uma horda de indivíduos pouco profissionais numa competição amadora. Após o desaire da Naide Gomes, o presidente do COP disse que se ia demitir. Ora, um general não desiste a meio da guerra. Um general que desiste a meio da guerra não serve para nada. Mais vale entregar a chefia das tropas a um cozinheiro . Um general que desiste quando a guerra ainda não estava perdida – ainda faltava saltar o Nelson que trouxe a medalha de ouro – é muito mais perigoso para o moral das tropas do que um inútil.
Após o salto do Nelson o general arrependeu-se de desistir. O futuro é dos troca-tintas. O futuro, o presente e o passado. O homem já lá está há 4 olímpiadas. Diz que ficava se lhe dessem mais poder. Os tais de que acabei de falar, os inúteis, também têm esse fascínio pelo poder. Têm uma compulsão pelo uso do poder. Não resistem a mandar para casa um atleta desbocado que diz que para ele “de manhã, é na caminha”. A propósito, “de manhã é mesmo na caminha”, pelo menos para records de força. O máximo da força física atinge-se por volta das 17h. Se houvesse chineses no lançamento do peso certamente lançariam a essa hora.
O dinheiro
Ficámos a saber que o COP gastou 2 milhões de contos. É muito dinheiro. Com 1 milhão e meio de contos dá para pagar 400 contos por mês a 70 atletas, 14 meses por ano, durante 4 anos. Mas não é isso que acontece. Ganham entre 100 e 200 contos. Nalguns casos, durante 6 meses! E o resto do dinheiro que falta para os 2 milhões de contos? Os outros 60 ou 80%? Não sei. Não parece que vá para os atletas. Sim, cheira a dinheiro mal gasto. O presidente do COP ganha 500 contos por mês, além de despesas, apesar de os estatutos dizerem que o seu cargo não deve ser remunerado. Os atletas não parecem tão bem remunerados assim. Pelo que li algures, fiquei com a ideia de que o subsídio ao atleta consegue ser menos do que o que o atleta paga em impostos. É provável que os atletas vivam mais do “paitrocínio” do que dos subsídios do estado.
A homenagem
Uma atleta da maratona trabalha 8 horas por dia em pé a servir cafés num café. Um atleta da marcha pinta gruas 8 horas por dia. O atleta da marcha que pinta gruas oito horas por dia conseguiu ficar em 11º lugar nos jogos olímpicos. Respeito. Um homem que é o 11º a nível mundial, no que quer que seja, trabalhando oito horas por dia noutra coisa, seria, obviamente, um candidato à medalha de ouro se não estivesse a trabalhar oito horas por dia. É para resolver essas questões que servem as lideranças e os subsídios. O atleta da marcha que ficou em 11º trabalhando 8 horas por dia na construção civil tem 37 anos e chama-se António Pereira.
P.S.: Se fosse chinês ou americano era campeão olímpico, quiçá até se fosse afegão.
Deixe um comentário