Sagres, Praia do Beliche, 2023
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Começava a escurecer, o sol já tinha desaparecido por detrás dos penhascos escarpados a oeste. Saímos da praia. Pelo caminho encontrámos uns calções e uma toalha no meio do areal vazio. Não se via ninguém, não havia ninguém. “Esqueceu-se dos calções, ou morreu? São os calções do morto”, pensámos. Trouxemos a toalha e os calções.
Subimos os 150 degraus que cobrem a encosta, e, com uma fome insaciável entrámos no restaurante do outro lado da estrada.
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O sargo estava fabuloso. Assado no carvão, regado com azeite e limão, devorei um lado com sofreguidão. Virei-o, comecei a descolar o outro lombo. Nisto, alguém bateu à porta do restaurante. As portas estão sempre fechadas, em Sagres, o vento é constante e desagradável.
Olhei, pela porta de vidro, e vi um tipo todo nu, com a mão direita a tapar a púbis, enquanto batia na porta com a esquerda.
Entrou e pediu, ao empregado, algo para vestir: “Roubaram-me os calções, na praia. Tem aí algo que eu possa vestir?”.
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