Saiu-me bem

Elogio em escrita própria vale o que vale. Vamos ver o que acham:
Símbolos
Ao cartesiano “Penso, logo existo” contraponho o “Percepciono, logo existo”. Para existir um símbolo é necessário existir pelo menos um sistema cognitivo que o reconheça. A pergunta “O que é um símbolo?” tem como reposta “O Natal é quando um homem quiser”. Significa isto que sem sistema cognitivo que os apreenda, não existem símbolos. Os símbolos são criados pela cognição. O real concreto e particular, físico, externo à cognição, indiferente à cognição, pode ser ou não símbolo. Tudo depende de como é percepcionado.
Limites da cognição
A realidade é ilusão. No fundo, no fundo, ninguém sabe como é a realidade A realidade é como é, e não como nós julgamos que ela é. A nossa cognição constrói modelos da realidade, aproximações da realidade. Uma analogia possível será aquela que envolve os mapas. Nenhum mapa das estradas pode representar com toda a fidelidade a rede viária. Existem sempre aproximações, resumos, detalhes ignorados. Senão, se tudo, tudo, mas mesmo tudo lá estivesse, o mapa teria de ser a própria estrada. A representação mais completa de qualquer objecto é o próprio objecto. A função do mapa é permitir lidar com as informações convenientes, evitando as outras. Um modelo é útil enquanto redutor de uma complexidade. A nossa cognição do que é a realidade não passa de um modelo da dita cuja.
Do contraditório deduz-se o que se quiser
Irreconciliáveis, antagónicos, indecidíveis são os conceitos estruturantes. São os fotões partículas ou ondas? O espaço é contínuo ou discreto? Essência ou aparência? Eterno ou efémero? Os conceitos mais amplos, mais estruturantes, têm de emergir como antagonismos tão irreconciliáveis quanto indecidíveis. Pois são eles as fronteiras últimas do alcançável pela razão. Para lá deles reside o mistério do icogniscível. E assim se alcançam as fronteiras, gélidos ermos solitários onde termina a alma humana e se pressentem os abismos agrestes do vácuo misterioso, fértil e pranho de enigmas, futuros e transcendentes.


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Comentários

2 comentários a “Saiu-me bem”

  1. Avatar de al
    al

    já vi que afinal o vinho de ontem até era bom… olha lá o que deu…
    afinal foi só falta de percepção (ou será perceção ?!) palativa, porque, na realidade, como era o vinho afinal? moléculas de sabor ou ondas actividade cerebral que foi passada a estímulos sensorio-motores que degeneraram num texto (conjunto de caracteres que a nossa mente decifra depois de os olhos percepcionarem)?
    mas temos que falar mais a respeito dos “mapas” e das representações da realidade…
    que dizer daquelas pessoas que já não possuem um membro mas que ainda sentem a dor (ou comichão) desse membro? a dor é real? ou ilusória? limite cognitivo? ou aproximação à realidade? e os sonhos quando são vivenciados? é essência? o aparência?
    venha lá mais uma garrafa, s.f.f., sim, que isto do vinho até é bem … simbólico

  2. Avatar de carnide
    carnide

    Belo comentário, sim senhor. Venham mais. E já agora, com uma garrafita a condizer… 😉

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