Alguém atropelou um pombo, o Gaspar não viu, e o pombo por ali ficou. Foi pisado por vários automóveis enquanto eu, indeciso, pensava se valeria a pena, com a crise que por aí está, descer as escadas, ir lá abaixo à estrada, trazer o bicho, e cozinhar um belo “Pombo au Pneu”.
Enquanto a ideia de cozinhar aquela especialidade gourmet ganhava força, os outros convivas, que entretanto se aperceberam do sucedido ao columbídeo parente em linha transviada dos dodos das Maurícias, começaram a chutar nomes de novos pratos, outras sugestões de processamento culinário: pizza de pombo, miolos de pombo em cama de alcatrão, tosta mista de pombo espalmado, etc.
A claridade do dia ia-se esvaindo, a decisão de cozinhar aquele pombo estava tacitamente tomada, só faltava mesmo ir buscá-lo e decidir o prato.
Nisto, um outro automóvel aproximou-se do pombo, travou de repente e saiu lá de dentro um indivíduo vestido com indumentária de caçador: colete verde camuflado, cinto com cartuchos de caçadeira, etc. Correu para o pombo tão depressa que até deixou a porta do carro aberta. Confirmou que era um pombo, ajoelhou-se, juntou as palmas das mãos como quem reza e olhou para o céu.
“Obrigado minha Nossa Senhora, salvaste-me o dia”. Pegou no pombo pelo pescoço, prendeu-o ao cinto de caçador que estava vazio, e foi-se embora com o nosso jantar.
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