molotov

Atiraram um molotov. A uma repartição de finanças. Talvez dois. Finalmente estamos em sintonia com a contestação europeia. Até que enfim. Porque é que o molotov é notícia? Qual é o significado de um molotov? Em que é que atirar um molotov é diferente de fazer greve? A diferença está na violência, dizem-nos. Se calhar não é a violência. Porque é que o molotov é notícia se não atingiu ninguém? Porque é que o molotov é notícia se não passa de um molotov atirado a uma parede ou a uma janela?

Porque é que o molotov incomoda? Porque atirar um molotov é sexy. Atirar um molotov é tão ou mais sedutor que os actos de consumo que o capitalismo nos propõe. O molotov é arte revolucionária. Atirar um molotov é, também, ser um performer. Um fotógrafo que se preze não perde o momento em que alguém atira um molotov, é um momento dinâmico de uma beleza inexplicável.

O molotov é o passaporte do revolucionário para a posteridade. “Olha eu, aqui há 20 anos a atirar um molotov”. Até as crianças têm orgulho: “Tenho lá em casa uma foto do meu avô a atirar um molotov”.

O capitalismo sabe porque teme o molotov: o molotov comunica de uma forma poderosa. Que imagens ficam das greves e das manifestações? Pouco, quase nada, se tudo ocorrer “civilizadamente” e sem conflito. Ninguém se lembra das imagens das greves ou das manifestações. Sem imagem não há sedução. Sem imagem não há memória. Sem memória não há construção de realidade. O molotov é a imagem que conquista a atenção, que seduz e que perdura na memória. O molotov é um ícone da comunicação revolucionária.

P.S.: Veja aqui, como fazer um molotov.


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Comentários

2 comentários a “molotov”

  1. Avatar de OMandelinhaDaDamaia
    OMandelinhaDaDamaia

    Agentes provocadores a soldo de agiotas estrangeiros…

    Nós estamos sob ataque. Querem pôr um Borges qualquer como PM.

  2. Avatar de de Ricardo Alves

    Não sei como alguém pode responsabilizar os anarquistas pelos pueris ataques de ontem a repartições de finanças. Que eu saiba, o extremismo de direita, principalmente o de extracção «neoliberal», é que fomenta o populismo anti-fiscal (género «todos os impostos são roubo»). Se os ataques tivessem partido de extremistas de esquerda, o lógico teria sido atacar agências bancárias (a começar pelas do BPN).

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