Atiraram um molotov. A uma repartição de finanças. Talvez dois. Finalmente estamos em sintonia com a contestação europeia. Até que enfim. Porque é que o molotov é notícia? Qual é o significado de um molotov? Em que é que atirar um molotov é diferente de fazer greve? A diferença está na violência, dizem-nos. Se calhar não é a violência. Porque é que o molotov é notícia se não atingiu ninguém? Porque é que o molotov é notícia se não passa de um molotov atirado a uma parede ou a uma janela?
Porque é que o molotov incomoda? Porque atirar um molotov é sexy. Atirar um molotov é tão ou mais sedutor que os actos de consumo que o capitalismo nos propõe. O molotov é arte revolucionária. Atirar um molotov é, também, ser um performer. Um fotógrafo que se preze não perde o momento em que alguém atira um molotov, é um momento dinâmico de uma beleza inexplicável.
O molotov é o passaporte do revolucionário para a posteridade. “Olha eu, aqui há 20 anos a atirar um molotov”. Até as crianças têm orgulho: “Tenho lá em casa uma foto do meu avô a atirar um molotov”.
O capitalismo sabe porque teme o molotov: o molotov comunica de uma forma poderosa. Que imagens ficam das greves e das manifestações? Pouco, quase nada, se tudo ocorrer “civilizadamente” e sem conflito. Ninguém se lembra das imagens das greves ou das manifestações. Sem imagem não há sedução. Sem imagem não há memória. Sem memória não há construção de realidade. O molotov é a imagem que conquista a atenção, que seduz e que perdura na memória. O molotov é um ícone da comunicação revolucionária.
P.S.: Veja aqui, como fazer um molotov.
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