legislar para o endividamento

Os portugueses não poupam. Têm é dívidas. Não têm depósitos. São uns irresponsáveis. A verdade é outra. Como é que os portugueses se endividaram? Casas, são 90% da dívida das famílias. A dívida dos portugueses é a das casas. A verdade é que, desde há mais de 30 anos, os governos legislam para fomentar o endividamento.

Os governos alargaram o prazo dos empréstimos das casas de 20 para 30 anos, depois para 40, e, por fim, para 50 anos. O consumidor guia-se pela prestação da casa. É o que está nos livros de comportamento de consumidor. Na prática, mantém-se a prestação e aumenta o prazo, logo aumenta o preço das casas. O alargamento dos prazos não atenua o esforço de aquisição da casa. O alargamento do prazo aumenta o preço das casas. Aumentando, ainda, o endividamento dos privados aos bancos. Aumentando, ainda, o endividamento dos nossos bancos ao estrangeiro. Os governos legislaram de modo a fomentar o aumento do preço das casas e o endividamento.

Vendeste uma casa? Queres depositar esse dinheiro? Só se fores maluco. O governo vai-te meter esse dinheiro como rendimento do IRS. Vais ficar sem metade dele. Queres escapar? Só tens uma maneira. Comprar uma casa maior. É fácil. Em vez de depositares, pedes mais algum emprestado e compras uma casa. O governo não quer depósitos, o governo penaliza os depósitos. O governo quer é que te endivides. Os governos legislaram para o endividamento.

Tens dinheiro mas não chega para comprar uma casa? É pena. Mesmo assim, o governo ajuda-te. Se não queres levar com o IRS metes o dinheiro numa Conta Poupança Habitação. O governo insiste em que direcciones o teu investimento para a habitação. Mesmo que haja um milhão e meio de casas a mais. Os governos são um poço de racionalidade e legislam para o endividamento.

P.S.: As casas são a única riqueza significativa da maior parte das famílias. A única riqueza que têm. A única riqueza que o governo lhes pode tirar. Os últimos desacatos da grécia começaram com o novo IMI. De uma maneira ou de outra, as famílias começam a perder as casas.


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Comentários

10 comentários a “legislar para o endividamento”

  1. Avatar de generalcuster
    generalcuster

    O chornal é amigo do ambiente.
    O chornal promove o uso do transporte ferroviário.

  2. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Vendeste uma casa. Tiveste mais valias? Sim.
    É rendimento, näo é? Entäo que mal tem ser taxado?
    Näo gostas? Compra obrigaçöes do Estado, ou “índices da bolsa”.

    A ideia de que “a casa é um activo que vai valorizando” é o princípio da especulaçäo, e é o principal motivo para o preço das casas ter disparado. Se o preço de uma casa pequena em 1640 subisse à taxa média do crescimento dos preços das casas 1990-2010 neste momento valeria tanto como todas as casas de Portugal e arredores.

  3. Avatar de transmutante
    transmutante

    Culpar um abstracto “princípio de especulação” pelo que aconteceu é desmerecidamente desculpabilizador para governos que tomaram medidas concretas que fomentaram a especulação.

    A verdade é simples. Primeiro, ninguém tinha feito um plano poupança habitação se não existissem estímulos fiscais para isso. Segundo, poucos teriam dirigido os seus investimentos para a habitação, num mercado com excesso de oferta, se não existissem estímulos fiscais para isso. Terceiro, os preços das casas teriam certamente descido se o percurso dos prazos de pagamento tivesse sido o inverso, ou seja, se os prazos tivessem passado de 50 para 40, para 30 e depois para 20 anos.

    Sim. Os governos são culpados.
    E os economerdas também.

    P.S.: O “princípio da especulação” que referes tem alguma verdade histórica porque as bolhas existem há muito. No entanto, é meia-verdade, porque a especulação tanto pode ser ascendente como descendente. A prova é que entramos, agora, num período em que a especulação descendente parece não ter limites.

  4. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Tudo bem, näo te tiro razäo. Os economerda quiseram, o governo legislou, o pessoal pös-se a jeito. E deu m… cagada!

    A especulaçäo descendente dá-se quando estoira a bolha.

    E há uma verdade fundamental, e bastante simples (como todas as verdades fundamentais): a casa própria NÄO é um investimento. É um refúgio de última instäncia, näo é para ganhar dinheiro. Já uma 2.a casa, isso sim, é um investimento.

    A questäo do “princípio especulatório” pöe-se devido à ideia que “a casa própria é uma fonte de riqueza”. Quando se compra uma casa faz-se porque:
    1 – está próxima do trabalho
    2 – é onde se tem a família
    3 – está numa terra de que se gosta
    – e por aí fora
    Ora isto säo critérios altamente *subjectivos*, que um potencial comprador näo tem necessariamente de partilhar. Quando se quer vender a casa, quanto maior a subjectividade nos critérios de compra, maior o seu valor afectivo–daí o “princípio especulatório”.

    Depois a legislaçäo e o pessoal “por-se a jeito”: os Bancos adoram a ideia de extender o crédito. Quanto maior o prazo, mais tempo o cliente está agrilhoado… e é mais dinheiro garantido! A 30 anos pagas no fim umas 2 casas, a 50 seräo 4 ou mais. O Zé nem se importa, porque paga menos por mês…

    Fossem todos como eu estavam os Bancos lixados. Essa é que é essa. Cair no engodo desses “estímulos fiscais”? Nem morto. Säo presentes de grego. Pago o máximo que posso por mês, sacrifico-me q.b., mas ao fim de 20 anos o Banco näo me toca.

  5. Avatar de pco69
    pco69

    Devido ao congelamento das rendas (que faz com que viver em pleno centro de Almada/Cacilhas em casa alugada à mais de 40 anos, custe uma ninharia) e à dificuldade que os senhorios tinham (e ainda têm) de conseguir retirar os inquilinos dessas casas, deixou de haver casas para alugar, ou então, o seu aluguer mensal era com uma valor extremamente elevado. Isso fez com que as pessoas pensassem que em vez de pagar 100 contos por um aluguer mensal de uma casa que não lhes pertencia, era preferível pagar 120 por uma que no final dos 20 ou 30 ou 50 anos, seria deles.

    Isso fez com que o parque habitacional português fosse (já li isso algures, mas procurei agora e não o consegui encontrar) um em que a grande maioria das casa fosse pertença dos próprios donos (ressalvando a questão da dívida ao banco).

    Quando esta geração deixar este parque habitacional aos nossos filhos, estes terão uma mais valia que na maioria dos outros países simplesmente não existe.

    Podem sempre argumentar que houve pessoas que se enterraram na prestação da casa, mas isso é estupidez humana.

    Notem, que estou apenas a falar do caso português, sem ir para os lados da américa e dos subprime.

  6. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Isso é tudo muito relativo, pco69. Interessa saber onde é que se deixa o parque habitacional. Se for todo em Lisboa ou outra cidade grande, é possível que os filhos ocupem a casa dos pais, ou que a consigam vender. Mas Portugal näo é só cidades grandes.

    Os filhos näo sabem onde viveräo, onde teräo trabalho. Provavelmente seräo obrigados a vender as casas, e logo essa obrigaçäo fará o preço delas descer. Além de que teräo obrigatoriamente de as renovar antes de as vender.

    Quantas “casa na terrinha” säo deixadas ao abandono?
    Em termos práticos, essa mais valia näo vai existir, ou será muito relativa. E com as perspectivas económicas para o futuro próximo… ficaräo para arrendar? Para vender aos estrangeiros?

  7. Avatar de transmutante
    transmutante

    1 – Graças às despesas da casa boa parte dos portugueses “optaram” por não ter filhos. Por isso não têm sequer a quem deixar a casa.

    2 – Os filhos(as) só têm a casa dos pais “disponível” quando atingem os 50 anos. Se constituíram família não foi na casa dos pais. Assim se desfaz o mito de que a casa dos pais serve para os filhos viverem.

    3 – Só os netos poderiam fazer usufruto dessa casa, que era dos avós. Mas nessa altura já a casa tem 75 anos. Uma casa com 75 anos está a cair de podre. Ninguém quer viver nela.

    4 – Se a casa tiver 75 anos e estiver inserida num condomínio, é ainda pior. Só traz despesas. Nem para remodelar e vender serve porque os outros condóminos vão deixar degradar o prédio.

    5 – O imposto sucessório, “a revitalizar”, a bem da “justiça social” cavaquista vai apropriar-se do valor reminiscente das casas.

    6 – O novo IMI vai apropriar-se das casas, à semelhança do que já aconteceu na Grécia por iniciativa da mesma troika que por cá dita as regras.

    7 – Em portugal não há emprego. Os filhos irão emigrar, de pouco lhes serve uma casa num local inóspito onde não encontram como viver.

    Casas? Investimento? Está aí um milhão delas às moscas. Mesmo a foder à força toda (dava 100 mil novas crianças por ano) levávamos 10 anos a encher as casas que já estão construídas. Mas como a população não pára de descer, cada vez vão existir mais casas vazias. Todos os construtores civis com dois dedos de testa deixaram de construir. Casa não é investimento, é acidente de percurso.

  8. Avatar de OMandelinhaDaDamaia
    OMandelinhaDaDamaia

    Tenho uma palhotas para vender, numa zona aprazível, reserva natural, bom clima tropical, pouca vizinhança.

  9. Avatar de transmutante
    transmutante

    Aí vem o ataque às casas dos portugueses:
    “Fisco começa a avaliar 5 milhões de imóveis”
    http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2161052

    Conforme previsto aqui a 17 de Novembro:
    “6 – O novo IMI vai apropriar-se das casas, à semelhança do que já aconteceu na Grécia por iniciativa da mesma troika que por cá dita as regras.”

    Num país em que tudo anda devagar, a avaliação vai andar depressa. O imposto de 2012, a pagar em 2013, já entra com a casa reavaliada.

    P.S.: Agora sim, o preço das casas vai cair. Agora sim, os bancos deixam de ter garantias para os créditos. Finalmente, o rating dos bancos em CaCa1.

  10. Avatar de OMandelinhaDaDamaia
    OMandelinhaDaDamaia

    É o paraíso soviético.
    Viva a Merkel, eleita criptosoviética do ano!

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