Um dos temas mais apaixonantes para entender (não explicar) a nossa presença no mundo é (tentar) perceber como dividimos o tempo (em que vivemos).
O calendário (divisão das partes maiores) e o relógio (divisão das partes menores) têm fascinado muita gente, e eu incluo-me no lote dos que o estudam. Este estudo do seu funcionamento, bem como a procura do calendário ou do relógio “perfeitos” têm permitido quer o avanço da ciência, quer da técnica.
E claro que, tal como em outros temas fascinantes, existe sempre um certo conteúdo mais anedótico, que me parece apropriado para este blog.Ontem foi um dia ímpar –29 de Fevereiro, o não habitual 60º dia do ano do calendário Gregoriano. Este é o único dia que tem data de “inauguração”.
O dia 29 de Fevereiro foi pensado por Numa Pompílius, segundo rei de Roma (n. 673 a.C.). Na realidade, Numa “pensou” em todo o mês de Fevereiro (e também Janeiro), dado que Rómulo só tinha criado dez meses (de Março a Dezembro). Mas Numa tinha criado Fevereiro com 29 dias sempre, excepto nos anos das intercalações, em que tinha 30 dias.
Depois de muita confusão (esquecimento de dias intercalares ou encurtamento do ano para taxar mais as populações… ai se os nossos governantes de agora o pudessem fazer…), em 46 a.C., César Júlio (mas conhecido por Júlio César) depois das campanhas do Egipto, onde “aprendeu” com os sábios locais o que estava errado no calendário romano, mandou reformular o calendário (Juliano) e deu uma tremenda confusão ao fazer com que o ano de 45 a.C. (709 ab urbe condita) tivesse 445 dias para se dar o ajustamento das estações com o dito calendário. O ano começou em (como era hábito naqueles tempos) 1 de Março e teve pela primeira vez um mês de Júlio (Julho) em vez do Quintembro. A regra da intercalação de 1 dia após o dia da Terminália (a festa do deus Términus, a 23 de Fevereiro) a cada 4 anos deu-se assim por ordem do grande general/imperador/césar. Este era, portanto, um ano bissexto – bi-sexto ante calendas martii.
Mas Fevereiro só passou a ter 28 dias sempre e 29 nos anos das intercalações (e, portanto, de excepção), quando o César Augusto transformou pomposamente (e sem modéstia) Sextembro (o sexto mês) em Augusto (Agosto) e não querendo ser menos que o tio Júlio, o mudou de 30 para 31 dias (tirando 1 dia ao Fevereiro).
Só na idade média se mudou o hábito de numerar os dias de forma diferente, “acrescentando” o 29º e não o 24º dia de Fevereiro, e a regra de fazer bissextos todos os anos múltiplos de 4 excepto os múltiplos de 400 só se deu com a introdução do nosso actual calendário Gregoriano (bula Inter gravissimas), em 1582, após a onda de mudança contra as reformas (protestantes) que grassavam por essa Europa.
O resto -é história. Mas pelo meio ainda há mais “estórias”.
Uma delas é que ao menos o calendário da Revolução Francesa era igual para todos; afinal tinha a ver com o tema da república -liberdade, igualdade, fraternidade.
Mas o caso que acho mais notável é o da existência do dia 30 de Fevereiro que se deu em duas situações. Na Suécia por ao adoptar o calendário Gregoriano no princípio de 1700 se esqueceram das intercalações (durante alguns anos) e quando se aperceberam adicionaram então o 29 e o 30 no ano de 1712. E também na União Soviética onde se passou algo semelhante, com a criação do calendário da revolução que em 1930 e 1931 tiveram o dia 30 de Fevereiro.
Bem… vamos lá voltar à normalidade, já que agora é 1 de Março e “ano novo vida nova”.
Se este blog honrar o que diz nos seus estatutos (prefácio à 4ª edição) e continuar na senda das anormalidades, não caindo na tentação de continuar monocromático à volta do tema dos invólucros dos gâmetas feminino, talvez possa continuar a blogar mais um pouco à volta do tema dos calendários.
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