Greve Geral

Hoje fiz greve: não cortei a barba.

De resto, trabalhei como todos os revolucionários deste país. Ainda mais que o usual. Quando às 6:30 da manhã me meti no carro para enfrentar as filas de trânsito, já o nosso Sindicalista Maior, o Sr. Carvalho da Silva, estava a trabalhar. Ouvi-o, na rádio, a discursar às portas da Auto-Europa, a fazer a apologia da greve geral.

“Se faço greve? Não. Faço hoje o que faço todos os dias: lutar pelos trabalhadores. A greve é para os outros.” disse Carvalho da Silva nas entrelinhas.

E quando o jornalista lhe perguntou o que esperava conseguir com esta greve, o Carvalho da Silva engasgou-se (o que não é muito comum), mas uns minutos depois lá conseguiu alinhar as ideias e, a medo, com medo de mentir, lá disse que esperava alguns recuos, por parte do Governo, nas reduções salarias e nos benefícios sociais…

Se a greve ajudasse a ganhar mais dinheiro, se aumentasse a produtividade do país, se melhorasse as nossas condições de vida, até eu fazia greve. Mas a gente olha para Leste, lá bem para de onde o sol nasce, e os ventos do Império do Meio dizem-nos o contrário: nem greves, nem fins de semana, nem menos que 16h de trabalho diárias, nem um mês de férias anuais, nada… Bem… 3 dias de férias por ano. É suficiente para reganhar o ânimo para um novo ano de trabalho. É assim que se melhoram as condições de vida… se não as nossas, pelo menos as dos nossos filhos. A China vai ser a maior potência mundial dentro de 15 anos. Indubitavelmente. E todos os chineses vão depois usufruir disso. Trabalham agora, usufruem depois.

Isto não vai lá com greves. Só greves à barba!


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Comentários

7 comentários a “Greve Geral”

  1. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Ó alex… Tás a anhar ou quê?

    Maneiras que näo entendeste que a causa para no Império do Meio eles trabalharem pelo menos 16 horas/dia e ter 3 dias de férias é precisamente por näo poderem fazer greve?

    É que a Europa saiu desse inferno a partir de 1850 porque o trabalho organizou-se, e deixou de ser como é no Império do Meio (que é uma ditadura e bem dura).

    As greves servem MESMO para aumentar a produtividade e as condiçöes de trabalho. Olha a França, que tem semanas laborais de 35 horas, mês e meio de férias, e vê lá onde é que a produtividade por hora trabalhada é maior.

    A estatística é uma batata. E desde que näo se perca tempo com cafezinhos e discutir a bola e engonhar, nem säo necessárias horas extraordinárias para o trabalho aparecer feito! Olha o PIB per capita da França!

    É que com artigos destes dás razäo aos neoliberais que andam a lixar o povo e a gozar com o pagode. Näo vês que eles querem mesmo que nós e os nossos filhos e netos trabalhem à chinesa, porque “só assim é eficiente”, e o crescimento é mandado às malvas na próxima crise financeira que eles próprios criam? Pamordeus!

    Queres trabalhar à jorna por tuta e meia como o meu bisavö? Entäo prepara-te…

  2. Avatar de oKikas
    oKikas

    O golpe da globalização é isso mesmo:
    O nível de vida global sobe, embora o nosso desça.
    Perdemos nível de vida para que o de outros possa subir. Mas será que sobe mesmo? Que o nosso desce, disso não há dúvidas.

    Há uns tipos que se fartam de ganhar dinheiro com isso da globalização. E que fazem teorias muito giras, a explicar como todos ganhamos.
    Também vendem fundos de investimento, banha da cobra e gostam de cobrar juros.

  3. Avatar de alex

    Há 20 anos que trabalho com recibos verdes e afins. Enfim, trabalho precário mais ou menos à jorna como o teu bisavô.
    De início até era rentável porque pagavam bem. Agora pagam mal e estou a pensar imigrar para uma plataforma de petróleo, onde se ganhe melhor.
    Trabalho não é problema. Até trabalhava 30 horas por dia se os dias tivessem 30 horas.

    E se os europeus não tiverem esta mesma atitude, daqui a 15 anos estão todos a comer dos caixotes do lixo na China.

  4. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    E para que tens de trabalhar 30 horas por dia, ainda que mal te pergunte?
    Alguém enriqueceu a trabalhar assim? O meu bisavö morreu como nasceu, e só teve mais um bocadinho porque aconteceu o 25 de Abril e ele teve direito a uma reforma…

    Agora estou desempregado, e täo cedo näo morrerei de fome. Mudei-me para um sítio em que tenho comboio a 3 minutos e autocarros a 4 minutos de casa, de tal modo que näo tenho carro, porque näo preciso, e quando preciso, alugo. Poupei, e näo tenho dívidas ao banco.

    A casa onde vivo é alugada. Porque nunca se sabe onde trabalharei, e para que o trabalho näo esteja a mais de 35 minutos de casa, por transporte público. Opçöes de vida.

    Sou pragmático, dir-me-äo até demais. E? Com isso näo estou desesperado, e de vez em quando vou de férias a destinos exóticos. Com a mulher e 2 filhas. Näo, näo nasci rico. Näo entro é no jogo neoliberal.

    Tu, em 20 anos que o jogas, que ganhaste?
    O que digo é que, se os europeus não tiverem a mesma atitude que eu, daqui a 15 anos estão todos a comer dos caixotes do lixo da China, e a dizer “ai que bom isto com as farripas do livro de recibos verdes”!

    Vê o que se passou na Argentina a partir de 2001, e vê se eles estäo a comer dos caixotes do lixo… eles e os brasucas!

  5. Avatar de alex

    Há sempre a hipótese de nascer petróleo em Torres Vedras, como diz o Medina Carreira, e aí nem preciso de imigrar.

  6. Avatar de alex

    Em 1995, quando abriram as fronteiras do comércio mundial, eu vaticinei este mal estar que agora vivemos, e não me tenho cansado de cantá-lo aos 4 ventos.

    Só não ouve quem não quer. Não podemos fugir deste destino. Os chineses vão ganhar. Em todas as frentes. Nos ordenados baixos, na falta de benefícios sociais, na ausência de férias, na ausência de fins de semana… Nós vamos perder todas as regalias que temos.

    Eles sabem disso, sabem que é aí que podem ganhar, apostaram e vão mesmo ganhar. Não há forma nenhuma de nos esquivarmos.

    Eu antes dizia que assim que fechássemos as fronteiras aos produtos chineses, eles marchavam sobre a Europa e ao fim de 1 mês estavam à nossa porta e comiam-nos vivos.

    Agora nem precisam disso. No dia em que ameaçarmos fechar as fronteiras aos seus produtos, eles colocam a nossa moeda no mercado a tuta e meio e nós nem com um mês de ordenado conseguimos comprar um pão de meio quilo. Nem nós nem os americanos.

    Estamos nas mãos deles. E quem não tiver atitude, quem não estiver preparado para trabalhar 5632 horas por ano, não sobrevive.

    Nem na Sibéria te safas, ó Maquiavel.

  7. Avatar de Maquiavel
    Maquiavel

    Alex, chinês é paciente mas näo é parvo. E aburguesa-se como os outros, especialmente se estiver no estrangeiro. De quantos filhos de chineses emigrados já ouvi que näo querem seguir o negócio/modo de vida dos pais?
    Quanto mais alfabetizada a populaçäo chinesa for, mais isso acontece.

    Mas ainda falta um longo caminho para isso, näo é? Era o que se dizia da industrializaçäo chinesa por alturas da Glande Malcha!

    Porque é que na Sibéria näo me safaria? Ouvi dizer que aquilo é muito bonito no Veräo! 😀 Além de que ando a ter alguns anos de treino…! 😉

    Estamos nas mäos deles, pois estamos. Cavámos a nossa própria cova. E um dos motivos é a ganäncia neoliberal, que é autodestrutiva.

    Na pior das hipóteses, volto para Portugal, e dedico-me à agricultura. Fome näo passarei! E os chineses säo malucos por vinho português!

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