Para os que andam a dormir, fica aqui uma explicação simples e clara do que é a OMC.
A OMC é a Organização Mundial do Comércio (WTO – World Trade Organization), sucessora do GATT (General Agreement in Tariffs and Trade) nascido em 1947 para abrir o comércio mundial às transacções sem taxas alfandegárias. Talvez tivesse sido bom que o GATT tivesse levado a sua avante logo em 1947 e neste momento não estávamos nesta situação de queda livre financeira e de falta de capacidade de produção de emprego que presenciamos actualmente na Europa e em Portugal.
Com a abertura das fronteiras do comércio a todo o mundo, comércio sem taxas, comércio sem regras, não há nada que os europeus consigam produzir que seja competitivo com o que os chineses, os coreanos, os japoneses e todos os produtores do sudeste asiático consigam produzir.
“O trabalho intelectual” – aventam os mais ingénuos. Esse… esse já há muito que foi ultrapassado em qualidade e quantidade pela Índia e dentro de 3 a 5 anos vai sê-lo claramente pela China: demora apenas 3 anos a produzir um licenciado, e na China os licenciados não vão para a 24 de Julho beber copos, enquanto os pais deles vão a reuniões do sindicato para organizar a greve do dia seguinte. Não. Na China trabalha-se 18 horas por dia como se amanhã chegasse a 4ª Guerra Mundial.
Há mais de 15 anos que ando a tentar avisar todos estes incautos e autistas, que vivem à minha volta, que a OMC vai igualizar os ordenados dos trabalhadores em todo o mundo. O que é que isto quer dizer? Que os chineses vão passar a receber mais, mas nós europeus vamos passar a receber muito menos pelo mesmo trabalho que fazemos hoje.
E isto é a aplicação simples da teoria dos vasos comunicantes da Física à Economia (que só tem gajos que não sabem fazer contas, e que sempre que um soma dois números ganha o prémio Nobel): se há ordenados mais elevados de um lado e mais baixos do outro, e se não há barreiras (taxas alfandegárias) entre os dois lados, os produtos baratos de um lado escoam-se para o outro e os ordenados escoam-se no sentido contrário.
Mas o pior não é isso. O pior é que as condições sociais também se vão igualizar e isto não há nenhum cegueta de nenhum economista que consiga ver para avisar o povo. Os chineses descansam 3 dias por ano. e nós descansamos 130. Isso vai acabar. E não vão ser eles que vão passar a descansar 130 dias por ano. E nós vamos passar a trabalhar 16 horas por dia como qualquer chinês. 363 dias por anos. A partir dos 6 anos de idade. (Até a idade de entrada no mercado de trabalho se vai igualizar, e os direitos humanos e das crianças: de lá para cá.) Mas a fazer o quê – podem perguntar os mais incautos – se não há trabalho? A resposta é simples: vai haver muito trabalho na China: a limpar as latrinas dos chineses ricos, e mais tarde dos restaurantes do Vietename e das tabernas do Bangladesh.
Os japoneses demoraram 20 anos a sair da posição que os chineses têm agora (produtos de má qualidade, que se estragam ao fim de 2 utilizações). Os chineses vão demorar apenas 10, porque já sabem o caminho: está explicado em todos os livros de história da Economia. Basta copiarem.
Continuem a fazer greves, estúpidos de merda.
Ah! E para aqueles que pensam que a solução é fechar as fronteiras da Europa ao comércio mundial:
- Não é justo. Andámos dezenas de anos a explorar os países subdesenvolvidos, a vender-lhes os nossos produtos caros e a comprar os deles baratos, agora acabou.
- Os grandes donos do dinheiro, os administradores das grandes multinacionais, os gajos que realmente mandam nesta merda e que ganham milhões com o processo de escoamento do dinheiro pelos tubos dos vasos comunicantes, esses gajos não deixam que as fronteiras (torneiras) se fechem nunca mais.
- Mas mesmo que nós conseguíssemos fazer um Maio de 68 todos os dias, mesmo que esquecessemos o semi-acto de justiça (ou o acto de semi-justiça) que está por trás da OMC (porque a outra metade é da responsabilidade dos patrões das multinacionais, os tais de CEOs, uma designação pomposa para uma actividade de exploração e ladroagem autorizada) e conseguíssemos pôr o país a ferro e fogo, destruir as instituições, acabar com a Europa e fechar as fronteiras, assim que os chineses tivessem fome punham-se em marcha, dois meses depois estavam às portas da Europa e comiam-nos vivos.
Portem-se bem.
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